Home Padre Landell de Moura: o brasileiro que mudou a história das telecomunicações

Padre Landell de Moura: o brasileiro que mudou a história das telecomunicações

No dia 21 de janeiro é comemorado o aniversário de nascimento do Padre Landell de Moura, ocorrido em 1861, em Porto Alegre. Nem todos os brasileiros conhecem este Herói da Pátria, assim reconhecido pelo Governo Federal em 2012. E poucos sabem o papel fundamental que ele desempenhou para as telecomunicações no país. Suas descobertas estão relacionadas a diversos serviços de telecomunicações e de radiodifusão.

Há cerca de 120 anos, autoridades, a imprensa e um amontoado de curiosos se reuniram na Avenida Paulista, em São Paulo, para assistir um evento inédito: a transmissão da palavra pelo ar. Por meio de uma espécie de telefone sem fio, a voz humana, uma melodia e o tiquetaquear de um relógio atravessaram bairros da capital paulista e foram ouvidos com nitidez a 8 km de distância. Surgia, então, a primeira demonstração pública da tecnologia de transmissão sem fio, que deu origem a inventos como o telégrafo sem fio, o telefone sem fio e também ao rádio.

O autor dessas descobertas e pioneiro na transmissão de voz humana pelas ondas do rádio era um brasileiro. Seu nome: Roberto Landell de Moura. Embora fosse padre, sua atuação de maior destaque se deu no universo das telecomunicações.

Ainda no século XIX, Landell usou ondas eletromagnéticas para transmitir voz entre o bairro de Santana até a Avenida Paulista. Registros oficiais e notícias publicadas em importantes jornais do período comprovam o fato. Na mesma época, porém, o inventor italiano Guglielmo Marconi também desenvolvia experimentos nesse sentido. E foi ele quem acabou ganhando a fama de inventor do rádio – além de um Prêmio Nobel de Física, em 1909.

A mais gritante diferença entre a trajetória dos cientistas – e que acabou por tornar o italiano mais conhecido do que o brasileiro – eram os incentivos que cada um recebia de seus respectivos países. Enquanto a Itália investia nas ideias de Marconi, o padre Landell sequer conseguiu patentear ou produzir comercialmente suas invenções no Brasil.

Além do pouco incentivo, Landell sofreu perseguições, sendo acusado de herege e feiticeiro. O pesquisador cogitou até mesmo doar os equipamentos que desenvolvera ao governo britânico, mas acabou desistindo da ideia. Ao passar uma temporada nos Estados Unidos, em 1904, conseguiu patentear o transmissor de ondas, o telégrafo sem fio e o telefone sem fio.

O inventor quase anônimo

Landell iniciou sua carreira científica na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Mas foi em Roma, na Itália, que se formou em física e em química – assim como em teologia.

Após realizar as descobertas que serviram de base para o rádio e que, ainda hoje, são empregadas em diversos equipamentos que usam radiofrequência, o padre Roberto Landell de Moura faleceu aos 67 anos, de tuberculose, em 1928. Era, na ocasião, quase um anônimo.

O desejo de divulgar a história deste inventor brasileiro levou várias pessoas a se juntarem e pesquisarem sobre sua vida: “Em todas as frequências onde falei, mencionei o nome do Padre, porque achei que seu nome deveria constar ao lado do de Faraday e outros cientistas norte-americanos e europeus’’, destaca Alda Niemeyer, radioamadora e fundadora do Movimento Landell de Moura (MLM).

Algumas outras iniciativas buscam dar visibilidade às invenções de Landell e às suas contribuições para a ciência e a tecnologia no Brasil e no mundo. A mais importante foi seu reconhecimento como um dos Heróis da Pátria. Além disso, ruas, escolas, praças e centros de pesquisa levam seu nome. Também se tornou patrono de colégios e dos radioamadores brasileiros.

Patrono dos radioamadores

Seus estudos sobre transmissão e recepção de ondas eletromagnéticas, a criação e o aperfeiçoamento de novos protocolos de comunicação levaram ao reconhecimento do clérigo como patrono dos radioamadores brasileiros.

Nem todos conhecem as atividades de um radioamador. Trata-se de pessoa que usa seus equipamentos de radiocomunicação com finalidades de estudo e aprimoramento pessoal. Segundo Edgard Pakes, servidor da coordenação de fiscalização técnica da Anatel, muitas pessoas mantêm estações simplesmente porque gostam da atividade e também porque consideram que esse mecanismo é uma forma de ajudar os outros e o próprio Estado em situações de calamidade.

Não há fins lucrativos nessa atividade e ela deve ser amparada por uma licença de operação emitida pelo órgão de regulamentação de telecomunicações dos governos de cada país. No caso do Brasil, esse órgão é a Anatel.

A Agência exige que, antes de obter a outorga do serviço de radioamador, o usuário obtenha o Certificado de Operador de Estação de Radioamador (COER). Para retirar essa autorização, é preciso ser aprovado em testes de avaliação, cujas matérias variam de acordo com três classes, que abordam, respectivamente, os seguintes tópicos: técnica e ética operacional e legislação de telecomunicações; os temas anteriores, acrescidos de conhecimentos básicos de eletrônica e eletricidade e transmissão e recepção auditiva de sinais em Código Morse; e todos os conteúdos mencionados acima, mais conhecimentos técnicos de eletrônica e eletricidade e transmissão e recepção auditiva de sinais em Código Morse.

O certificado pode ser obtido por qualquer pessoa física residente no Brasil e é expedido pelo valor de R$8,85. O documento é intransferível, tem prazo de validade indeterminado e habilita o titular a obter autorização para executar o Serviço de Radioamador e a operar uma estação devidamente licenciada. Para saber mais sobre radioamadorismo, acesse: anatel.gov.br/setorregulado/radioamadorismo.